Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment - Billy Wilder, 1960)
- Diogo Hiroyuki
- 4 de mai. de 2020
- 2 min de leitura

“Resolvi virar um "mensch".
Sabe o que significa? Um ser humano.”
Certa vez Billy Wilder afirmou que se tivesse dirigido A Lista de Schindler, este seria seu filme mais pessoal. Fato é que Steven Spielberg fez trabalho monumental e jamais saberemos qual seria o rumo e o impacto no cinema se o cenário fosse o outro. Wilder, judeu, foi repórter em Viena e posteriormente em Berlim quando se viu forçado pelas circunstâncias, a migrar para os Estados Unidos.
Daí germinava, talvez, a maior trajetória individual hollywoodiana que o cinema já viu. Considerado o mais cínico de Hollywood, descrito por William Holden como “um cérebro cheio de lâminas (Some Like It Wilder)”, conseguiu como ninguém percorrer por gêneros diversos conservando a qualidade: Noir (Pacto de Sangue); O filme mais engraçado de todos os tempos (Quanto Mais Quente Melhor); Um dos melhores retratos sobre o alcoolismo com Ray Milland em uma das maiores atuações masculinas da história (Farrapo Humano); A cena mais icônica do cinema norte-americano (O Pecado Mora ao Lado); Um dos melhores dramas de tribunal (Testemunha de Acusação); Um dos retratos mais cínicos e descrentes da condição humana (A Montanha dos Sete Abutres); e O filme sobre o fim de uma era, a verdadeira representação das entranhas dos bastidores de Hollywood (Crepúsculo dos Deuses); Além de inúmeros roteiros afiados como, por exemplo, Ninotchka.
Em Se Meu Apartamento Falasse, Wilder faz estudo sobre personagens simplórios, não há peregrinação do homem desprezível à absolvição (Sabrina) ou a “mocinha” que – obrigatoriamente – necessita de salvação. Na partida de gin entre Lemmon e MacLaine observa-se que não há inocência e pureza como de costume em personagens retratados nos filmes daquele período. É apenas um par de desajustados remando de encontro à solidão e melancolia.
No início vemos uma sala gigante saturada de funcionários (que muito me lembra Jacques Tati) e dentre eles o personagem de Jack Lemmon, que é meramente mais um funcionário na gigantesca empresa. É neste sentido que vejo a virtude do filme, opostamente ao conto de fadas, mostra, de maneira autêntica, a rotina, hábitos e vícios da vida: a ascensão profissional x decência e o amor proibido x amor-próprio encontrando o encanto da vida na crueza da realidade de figuras que nos causam empatia.
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