Os Guarda-Chuvas do Amor (Les parapluies de Cherbourg - Jacques Demy, 1964)
- Diogo Hiroyuki
- 4 de abr. de 2021
- 2 min de leitura

“Só se morre de amor no cinema”
Certa vez Agnès Varda confidenciou que Branca de Neve marcou profundamente a infância de Jacques Demy. No início de carreira, Demy já havia dirigido Jeanne Moreau e Anouk Aimée, mas foi em 1964 com Os Guarda-Chuvas do Amor que alcança a notoriedade, o primor técnico, e faz o universo se apaixonar pela bela e jovem Catherine Deneuve.
Produzir e lançar um musical sem balé ou coreografia com todos os diálogos cantados e, acima de tudo, propor tal revolução a um gênero deteriorado e decadente, é de brilhantismo e frescor jamais almejado ou esperado no gênero. A princípio, os diálogos cantados causam uma espontânea e inusitada antipatia pela excentricidade de conduzir o filme desta maneira. Porém, gradualmente, com o suporte da belíssima música de Michel Legrand, a explosão de cores e o rigor em cada enquadramento, Demy entrelaça magistralmente a opereta com a pintura.
É incrível constatar que as associações a animação e Branca de Neve se complementam ao filme de Demy. De modo mais profundo e com temas mais espinhosos, traz o equilíbrio perfeito do registro do cotidiano entre o onírico e a realidade. O filme é dividido em três partes: A partida; A ausência; e O retorno.
A partida atesta o amor entre dois jovens de classes sociais diferentes (Guy e Geneviève), e permuta perenemente entre a realidade e o onírico. Se pauta pelo famigerado “viver de amor” e culmina na desoladora despedida na estação de trem. A ausência é um golpe, uma onda esmagadora de realidade melancólica a Geneviève. Discorre sobre a gravidez na adolescência (pré-matrimônio), de maneira crua trazendo as incertezas e dúvidas do primeiro amor, a situação financeira em contrapartida a perspectiva de um futuro mais abastado, culminando na ruína do, aparente, amor eterno em detrimento a um horizonte mais sofisticado. O retorno, a priori, é realidade nua e atroz para Guy. É a perda de tudo. Do amor, da família, do emprego. É a perda de sua natureza. Porém, gradativamente, reencontra o amor. O desfecho, no posto, apesar de belíssimo, é melancólico e agridoce. Todavia, é fascinante observar que não há perversidade nas pessoas, mas apenas como elas se adaptam as circunstâncias da vida. Vida esta que, em tempos de guerra, é árdua e não espera.
Os Guarda-Chuvas do Amor que inspirou e arrebatou diversos espectadores como, por exemplo, Damien Chazelle (La La Land), é encantamento, arrebatamento puro em sua essência.
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