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Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's - Blake Edwards, 1961)




“Não pertencemos a ninguém, e ninguém nos pertence.

Nem mesmo pertencemos um ao outro.”


A cidade de Nova York no cinema norte-americano frequentemente se assemelha a um organismo vivo que, conforme exposta durante a película, transforma-se sutilmente (ou não) em pano de fundo para corroborar a persona do protagonista. Woody Allen permanentemente a reverencia, já Scorsese, expele De Niro em uma Nova York soturna, desprezível, recordando, por vezes, Roquentin em Bouville. Bonequinha de Luxo – utilizando-se do plano inicial – enaltece a cidade pelo glamour, fascínio e esplendor de seus prédios, sobretudo, a Tiffany & Co.


O famoso enquadramento de Audrey Hepburn solitariamente observando a loja supracitada pela vitrine, ao som de Moon River ao fundo, é a metáfora perfeita do argumento baseado na obra de Truman Capote. Para Holly, a loja não é um mero estabelecimento. Tem sentido mais amplo e profundo, traz consigo algo que Holly não conseguira até então, isto é, o sentimento de lar, empatia e conforto (monetário e social-cultural) em sua totalidade. É desejo ávido e inquieto por uma vida serena para Holly e seu irmão, não importando quais artifícios (concessão do corpo) e sacrifícios (abandono a cidade adotada) a vida lhe trará. Tudo é lícito, desde que o objetivo final seja alcançado.


Blake Edwards notoriamente conhecido pelo gênero de comédia e por suas “cenas de festa” em seus filmes, vide The Party, faz trabalho correto atrás das câmeras, sobretudo, por tratar de um tema tão obscuro para a época com sutileza e classe. Ressalto que, apesar de sua maestria e de ser celebrado pelo humor, Blake Edwards realizou um ano depois de Bonequinha de Luxo, um tratado denso e verossímil sobre o alcoolismo (Vício Maldito – com atuações estupendas de Remick e Lemmon). Desprendido de juízo de valores, acredito que a decisão de conduzir a narrativa idealizando o romance, por vezes, em detrimento e / ou equilíbrio da realidade lúgubre da profissão de Holly, foi uma escolha indispensável para tornar o filme em um dos maiores da história.


Paradoxalmente o ambíguo anseio (O Sonho Tiffany) de Holly perdura até o clímax do filme. Se a motivação primitiva era garantir o bem-estar do irmão, a premissa vai esvanecendo primeiramente no momento em que Doc surge, e posteriormente no recebimento do telegrama. Talvez, após estes momentos, encontre-se a simetria entre o olhar literário (Holly) x cinematográfico (Lulamae).


Nem a estereotipia de Mickey Rooney, habitual e vulgar no cinema norte-americano clássico, minimiza a grandeza da película: a beleza e célebre elegância de Audrey Hepburn; a música de Henry Mancini; a chuva torrencial, purificando os “dois andarilhos” marginalizados e presenteados com – mais uma – chance ao amor.

 
 
 

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by diogokerouac

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