12 Homens e Uma Sentença (12 Angry Men - Sidney Lumet, 1957)
- Diogo Hiroyuki
- 14 de mai. de 2020
- 2 min de leitura

“Como deve ser apertar o botão?
Desde que chegou aqui comporta-se como um vingador público.
Quer vê-lo morrer, porque quer e não pelos fatos.
É um sádico!”
A atualidade nefasta que vivenciamos norteado pela intolerância, ódio e desencanto coletivo, abundantemente se equipara as personalidades do júri de 12 Homens e Uma Sentença. A – grande – diferença, porém, é que no filme há a prerrogativa de ali estar por ser baluarte da liberdade dos cidadãos. No mundo “moderno”, no entanto, pouco ou coisa alguma é necessária para que o pior da natureza humana desponte. Analogamente, utopia seria se o cidadão modelo fosse o jurado Nº 08.
É preciso coragem para filmar – quase que em sua totalidade – em único ambiente, basicamente como teatro filmado, pois a decorrência pode ser algo extremamente maçante e medíocre. Neste contexto, a experiência e conhecimento de Lumet no teatro foram fundamentais para o êxito de 12 Homens e Uma Sentença. Os minuciosos enquadramentos que amplificam as expressões tensas do júri, os planos relativamente longos para a época, os posicionamentos e o texto, tudo é feito de maneira sistemática e ordenada que, em conjunto, dão fluidez absurda de ritmo. A fluidez é tão notória que ao final do filme vemos uma singela cena em que é perguntado: “Qual é o seu nome?” e compreendemos que o que importa são os embates e a argumentação.
O que o faz, além dos predicados supracitados, um filme singular, é a não relevância ao julgamento em si (os argumentos dos advogados, opinião pública, as repercussões), mas a investigação do âmago do Homem (jurados), quando extravasam suas frustrações e angústias de modo completamente condenável evocando racismo, segregação e tirania.
O filme inicia minutos antes da deliberação do júri e antes de entrar para dar inicio ao debate é exposto explicitamente que a imensa maioria do júri já julgou e condenou o réu. A introdução do jurado Nº 08 é tímida, mas acima de tudo, justa e corajosa. A escolha de Henry Fonda, aliás, é objetiva considerando sua persona histórica, até então, de paladino dos menos favorecidos para idealização do cidadão modelo. O jurado Nº 08, a priori, não o acha, sem sombra de dúvidas, inocente, mas assim o diz tão unicamente para que haja debate e que o réu não seja sentenciado à morte de maneira tão vertiginosa. E aí está a tão desprezada empatia que tanto nos é ausente nos dias atuais. Associadamente ao “mundo real” desta modernidade líquida, a convicção de que tudo é preto no branco e branco no preto, onde somos juiz, júri e carrasco, nos distancia cada vez mais como sociedade e da Humanidade em sua essência. Em contrapartida, o jurado Nº 08 busca esmiuçar a área cinzenta, a ambivalência das circunstâncias e, acima de tudo, a democracia do debate.
Comentários